Uma blusa de seda e saia longa,
Tiques nas mãos
Os olhos avermelhados...
Uns trinta anos?
Entrou naquele salão que eu me embelezava
E me ascendeu com aquele pedido, Me tirou do lugar física e moralmente .
“ O moçá, lembra aquele dia que te pedi um pente? Me empresta aí de novo!”
Pediu assim, ordenando, para a dona do salão.
Após receber o pente e o silencio dos presentes,
Posicionou-se em frente ao espelho
com um quase carinho misturado com um rancor pela vida
e começou sua labuta entre as madeixas
“ É fogo, viu... esse cabelo... todo mundo fica me olhando e me discriminando, só porque eu
sou preta!” .
Praguejava contra os ventos para a avenida.
Demorou-se com o pente emprestado, a sua descoordenação devido aos tiques, faziam-na se irritar...
Tive vontade de chorar ao observá-la de canto de olho, não queria pertubá-la encarando-a. Tive raiva da herança milenar de vaidade que herdamos, Tive ódio da bem chamada “ditadura da beleza” .
Porque ela não sentia somente uma fome... O que aquelas vozes deviam lhe dizer?
Porque ela não sentia somente uma fome... O que aquelas vozes deviam lhe dizer?
Foi embora.
E todas deslancharam assuntos sobre ela. Contaram-me como fora outras vezes que esteve lá.
“Louca, senil” “ Só fala que é discriminada”...
Forte.