segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Aquela Mulher Preta

Usava brincos de argola dourados

Uma blusa de seda  e saia longa,

Tiques nas mãos

Os olhos avermelhados...

Uns trinta anos?


Entrou naquele salão que eu me embelezava

E  me ascendeu com aquele pedido, Me tirou do lugar física e moralmente .


“ O moçá, lembra aquele dia que te pedi um pente? Me empresta aí de novo!”
 Pediu assim, ordenando, para a dona do salão.


Após receber o pente e o silencio dos presentes,

Posicionou-se em frente ao espelho

com um quase carinho  misturado com um rancor pela vida

e começou sua labuta entre as madeixas

“ É fogo, viu... esse cabelo... todo mundo fica me olhando e me discriminando, só porque eu

sou preta!” .


Praguejava contra os ventos para a avenida.

Demorou-se com o pente emprestado, a sua descoordenação  devido aos tiques, faziam-na se irritar...


Tive vontade de chorar ao observá-la de canto de olho, não queria pertubá-la encarando-a. Tive raiva da herança milenar de vaidade que herdamos, Tive ódio da bem chamada “ditadura da beleza” .  
Porque ela não sentia somente uma fome...  O que aquelas vozes deviam lhe dizer?


Foi embora.


E todas deslancharam assuntos sobre ela. Contaram-me como fora outras vezes que esteve lá.

“Louca, senil” “ Só fala que é discriminada”...


Forte.

sábado, 1 de outubro de 2011

A Arte de Afastar as Pessoas

É só dizer exatamente o que pensa;
Ou não dizer nada quando alguém espera por isso.

É só, depois de muitos não's, dizer um sim;
Ou depois de muitos sim's dizer um não.

É só agir com a verdade do teu ser quando
outro ser espera tua verdade falsa.

É só pensar em si próprio
com o absurdo desejo de ser feliz
e notar que isso incomoda a razão.