quinta-feira, 30 de agosto de 2012

quarta-feira, 14 de março de 2012

Adorável Alienável Alienista

Quando pequeno já questionava as regras da casa dadas pela mãe.
Por que não se pode deixar os chinelos virados para baixo?
Porque se deixar, a mãe morre. Respondeu sua mãe.
O menino, riu-se. A mãe deu-lhe um tapa na boca.
Ele sabia que era uma estratégia da mãe para manter a casa organizada. Mas riu-se da criatividade metafísica que ele impusera sobre o fato.
Ele não passou a acreditar nela. Mas fingiu que sim, para ela gostar dele. E para lhe dar presentes.

Na adolescência, quando estava na escola, a professora alertou a todos sobre  copiar o questionário á caneta e responder á lápis. O problema é que o pobre menino só tinha caneta naquele momento e o seus colegas próximos não podiam lhe emprestar algum lápis. Ele preferiu avisar a professora.
Não tenho lápis agora, Vou responder também á caneta. Tudo bem professora?
Ela não achou tudo bem, Ele então contrapôs:
A senhora é incapaz de distinguir o questionário que elaborou e as respostas que darei?
Ela o pôs para fora da sala.
Ele não concordou sobre a importância de tais materiais na aula, Apenas estocou seu estojo escolar, E fingiu respeitar as regras da professora. Que era para ele gostar dele. E passar de ano.

No primeiro emprego que teve, Batia o cartão de ponto com exatidao. Fazia parte do RH. E nas horas vagas divertia-se com seu chefe o mesmo que no dia em que ele voltou do almoço sem bater o cartão, Lhe chamou a atencão.
Por que está batendo o cartão agora?
Voltei do almoço, mas esqueci de bater o cartão.
Vou ter que descontar esses minutos da sua folha, você sabe.  Prontificou-se o chefe amigo.
Ele retrucou:
Você me viu aqui, sabe que simplesmente esqueci.
Sei. Mas a máquina de ponto, não.
E quem é o chefe aqui, você ou a máquina? Riu-se na intenção de fazer o chefe pensar.
O chefe não riu e horas mais tarde, quando o menino já havia feito os trabalhos que ele não queria fazer, o demitira.
O menino não acreditava que devesse ser funcionário de máquinas, Mas  no novo emprego  achou melhor colocar alarmes no seu celular com os horários que devia bater o cartão.  Que era pra que gostassem dele. E pra ser promovido.
Ele queria ser artista, Achava que assim poderia ficar famoso e não precisar obedecer a ninguém. Achava digno ingressar em uma escola de Arte, Mas foi reprovado, em todas elas. Por um lado achava que era gênio demais. Por outro e determinante lado, Achou que não servia mesmo para a coisa. E desistiu, que era pra gostarem dele. E não passar mais vergonha.

Seu quarto é repleto de livros sobre teorias deterministas e positivistas, Aprecia os pensamentos dos rebeldes. Mas tinha um plano para dominar o mundo. Ser alienável. Sabia que sua alma de Adão queria desobedecer a tudo e a todos, Mesmo assim, preferia educar-se para ser alienável o bastante para respeitarem ele, confiarem nele, pra gostarem dele. E depois ser o maior dos alienadores que ainda vai existir.

Não lhe dei nome. Alienáveis não merecem nomes.  Mas como alienador, confesso que penso em… Adolfo.