segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Lavoura Arcaica

cena do filme "Lavoura Arcaica" do glorioso Luiz Fernando Carvalho- Inspiração deste texto.

Eu que nunca soube escrever e nem falar...
Eu que nunca fiz poesia, só escondi minhas verdades atrás das letras...
Eu que muito cedo aprendi que quem viaja para procurar um tesouro, acaba encontrando-o no lugar de onde partiu.
Eu que não sei nada sobre o mundo
Eu que vim de lugar nenhum e cultivo uma flor

Eu que coloco títulos nos outros, como se gente fosse filme...
Eu que vivo numa pressa estúpida...
Eu que brinco de amar...
Eu que choro por dentro toda mágoa e dôo minha sensibilidade a arte que escolhi
Eu que tenho olhos de menina e enxergo menino nos olhos dos outros

Eu que vivo em dois mundos. O superficial e o não-superficial
Eu que não sei em que mundo estou. Oscilo sem querer...
Eu que justifico o culto do obsceno em meia luz e equilíbrio
Eu que me autoflagelo com sentimentos nobres a plebeus
Eu que cuspo na face daqueles que fazem os olhos brilharem a meu reflexo

Eu que com o mesmo carinho que danço os dedos no verde, Seguro forte a folha e rasgo
Eu que não cumpro promessas
Eu que tenho um estranho jeito de ser só
Eu que beijo a luz do sol e adormeço no escuro do céu
Eu que não sei dizer sim nem não

Eu que estou em um lugar alto demais, demais, demais
E de nada sei, nada, nada, nada
Eu que escondo um baú
Eu que penso em ser fútil, porque o gosto do sabor do saber é amargo em instância
Eu que sorrateiramente teço histórias que não são minhas
Eu que me desequilibro na linha tênue. Ora lá, ora cá...

Eu que escrevo demais, porque não sei falar e me calo demais, porque não sei escrever

Ouso...

Ouso dizer que não existe partida e nem lugar para onde se vai
Não digo que não há ponto de partida e nem de chegada
Observe, digo que não existe partida e nem lugar para onde se vai, Totalmente distinto
Esses dois lugares que estou dizendo. É ilusão. Irmã do tempo. Ilusão.

Movimento é a pena de Deus por nós, que pensamos ser pássaros
O traço divide o real do irreal
A tinta ilustra com cor a doce ilusão
O sopro passeia por nossos poros e diz ser vida, se se cala, se morre.
O sorriso é a luz que acende o suspiro do suor de prazer

O que desata é a música dos ventos e o que amarra faz acorde com dois corações que orquestram juntos e regem o som da melodia perfeita
As folhas secas são tapetes invejosos por pés que abrem caminhos
As mãos sempre pensaram que eram Deus e dançam com a atmosfera com autoridade
A água traz consigo a austeridade de saciar a vida e reluta em se doar, quando o faz, toma posse de corpos esguios

Os cabelos sempre serviram para esconder a vergonha, enxugar o suor, chamar o pecado e embalar o sono dos sozinhos
Os tecidos que são plenos só se tocados e divinos se rasgados, mostram caminhos e brincam de serem corpos
O mar é grande e as lágrimas são miniaturas de mar, as lágrimas só são pequenas para lembrar que também somos

O abraço é o desejo de ser um, e é a partida e o lugar para onde se vai

É o choque de saber-se imóvel e pleno.

Ninguém precisa partir, ninguém está em lugar nenhum.

Eu que não cumpro promessas, digo que não vou mais dedicar-lhe palavras e dificilmente reler as que já dediquei
E nem vou chamar-lhe de menino e nem sonhar com noites de meia-luz e meias palavras... Prometo que meus olhos se contentarão com o chão e os seus com a ventania de acreditar-se completo
Continuo aqui, Você também
Ninguém parte, ninguém está em lugar nenhum
O choque do abraço é só para os sábios
E eu que nunca soube escrever e nem falar...

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Viéses e Vertentes


Eu tenho que aprender muitas coisas.
Óbvio, eu sei.
Carrego no peito uma sensação ruim, mas já escrevi sobre ela intitulando “Você sabe o que é ser o universo todo?”
Hoje, Me dei conta de que preciso aprender muitas coisas e não sei por onde começar.
Preciso aprender a falar de mim e se referir a mim dizendo: eu.
É muito difícil que eu realize esta façanha e você nem imagina a força que estou gastando pra escrever essas linhas.
Acho que vou precisar  escrever em um post-it “falar de mim” repetida vezes.
Hoje entraram em conflito com o que sou  ou apresento ser. Isso foi difícil de lidar, Eu deveria agir como sempre ajo, antes de estourar: sorrio. Hoje eu escolhi estourar.
É difícil lidar com pessoas que acham que eu sou uma coisa só, que não tenho viéses, vertentes e coração. É que sou singular ! (Não estou me elogiando, estou me classificando). Se assim sou classificada como posso me encaixar em qualquer parte, em qualquer grupo?
Geralmente ajo sempre com uma das partes que tenho, mas não completamente.
Espero que você,( Digo você, hoje excepcionalmente a quem estiver lendo e não ao homem que sempre me dirijo) esteja entendendo que não me finjo de outra pessoa, mas realmente não me mostro completamente, porque é balela dizer isto, ninguém se mostra completamente.
Hoje meus viéses e vertentes estavam nos lugares errados.
Mas... Por causa do menino que mora nos olhos também, Lhe tenho saudade e essa saudade pré anuncia que um dia isso será só vazio e ele não estará mais aqui e não pode mais decidir meu dia e humor. Mesmo que seu corpo converse com o meu em silêncio e á distância, sinto saudade e não posso consumá-la.  Um dia ele vai partir e eu preciso urgente aprender a ficar só e só de mim também, me canso muito de mim.
Por isso disse que preciso aprender muitas coisas! Tenho manias de viver, mundos e fundos particulares, viéses, vertentes, corações, humores e a porra toda, não dou conta disso tudo, vezes ou outra tô tentando me esvaziar, mas sou apegada a elas.
Se pelo menos o menino ficasse pra sempre e me ajudasse com essa bagagem eu não me preocuparia tanto, No momento parece que só ele tem a força de suportá-la. Mas não merece, no sentido de ser bom demais pra mim. É melhor ficar no seu mundinho de facilidades mesmo . Hoje pela primeira vez o condenei, dizendo que não sabe o que é amor e nunca vai saber, amor não é facilmente se encontrar no outro e se combinarem, só porque fizeram a mesma faculdade, gostam da mesmas músicas e gostam de postar sobre tal assunto no facebook. Isso é egoísmo, é ver neste outro seu reflexo , achar-se belo demais e ficar a todo momento buscando adereços para se acreditar mais belo. Amar, se não é (e nunca é completamente, só um viés) deve ser: saber-se desconhecido e no outro conhecer-se mais e torna-se pleno, não sozinho, mas juntos. Não uma dupla de egoístas e sim uma dupla de sábios.
Me lembrei de um texto que não postei neste lugar que odeio o nome, havia apenas uma semana deste amor, eu disse tantas coisas fortes, acertei muitas e fui sincera demais. Falei “eu” ,”você” e “nós dois” com tanta propriedade que tive medo de sua repercussão.
Preciso aprender a chorar, Descobrir onde fica o baú perdido de lágrimas empedradas.
Preciso aprender muitas coisas e não devo me ater nisto ou me limito.
Preciso aprender...

Imagem:Eduoard Manet