Eu que nunca soube escrever e nem falar...
Eu que nunca fiz poesia, só escondi minhas verdades atrás das letras...
Eu que muito cedo aprendi que quem viaja para procurar um tesouro, acaba encontrando-o no lugar de onde partiu.
Eu que não sei nada sobre o mundo
Eu que vim de lugar nenhum e cultivo uma flor
Eu que coloco títulos nos outros, como se gente fosse filme...
Eu que vivo numa pressa estúpida...
Eu que brinco de amar...
Eu que choro por dentro toda mágoa e dôo minha sensibilidade a arte que escolhi
Eu que tenho olhos de menina e enxergo menino nos olhos dos outros
Eu que vivo em dois mundos. O superficial e o não-superficial
Eu que não sei em que mundo estou. Oscilo sem querer...
Eu que justifico o culto do obsceno em meia luz e equilíbrio
Eu que me autoflagelo com sentimentos nobres a plebeus
Eu que cuspo na face daqueles que fazem os olhos brilharem a meu reflexo
Eu que com o mesmo carinho que danço os dedos no verde, Seguro forte a folha e rasgo
Eu que não cumpro promessas
Eu que tenho um estranho jeito de ser só
Eu que beijo a luz do sol e adormeço no escuro do céu
Eu que não sei dizer sim nem não
Eu que estou em um lugar alto demais, demais, demais
E de nada sei, nada, nada, nada
Eu que escondo um baú
Eu que penso em ser fútil, porque o gosto do sabor do saber é amargo em instância
Eu que sorrateiramente teço histórias que não são minhas
Eu que me desequilibro na linha tênue. Ora lá, ora cá...
Eu que escrevo demais, porque não sei falar e me calo demais, porque não sei escrever
Ouso...
Ouso dizer que não existe partida e nem lugar para onde se vai
Não digo que não há ponto de partida e nem de chegada
Observe, digo que não existe partida e nem lugar para onde se vai, Totalmente distinto
Esses dois lugares que estou dizendo. É ilusão. Irmã do tempo. Ilusão.
Esses dois lugares que estou dizendo. É ilusão. Irmã do tempo. Ilusão.
Movimento é a pena de Deus por nós, que pensamos ser pássaros
O traço divide o real do irreal
A tinta ilustra com cor a doce ilusão
O sopro passeia por nossos poros e diz ser vida, se se cala, se morre.
O sorriso é a luz que acende o suspiro do suor de prazer
O que desata é a música dos ventos e o que amarra faz acorde com dois corações que orquestram juntos e regem o som da melodia perfeita
As folhas secas são tapetes invejosos por pés que abrem caminhos
As mãos sempre pensaram que eram Deus e dançam com a atmosfera com autoridade
A água traz consigo a austeridade de saciar a vida e reluta em se doar, quando o faz, toma posse de corpos esguios
Os cabelos sempre serviram para esconder a vergonha, enxugar o suor, chamar o pecado e embalar o sono dos sozinhos
Os tecidos que são plenos só se tocados e divinos se rasgados, mostram caminhos e brincam de serem corpos
O mar é grande e as lágrimas são miniaturas de mar, as lágrimas só são pequenas para lembrar que também somos
O abraço é o desejo de ser um, e é a partida e o lugar para onde se vai
É o choque de saber-se imóvel e pleno.
Ninguém precisa partir, ninguém está em lugar nenhum.
Eu que não cumpro promessas, digo que não vou mais dedicar-lhe palavras e dificilmente reler as que já dediquei
E nem vou chamar-lhe de menino e nem sonhar com noites de meia-luz e meias palavras... Prometo que meus olhos se contentarão com o chão e os seus com a ventania de acreditar-se completo
Continuo aqui, Você também
Ninguém parte, ninguém está em lugar nenhum
O choque do abraço é só para os sábios
E eu que nunca soube escrever e nem falar...
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