sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Aquele homem (ou O Poeta na Terra)- que vendeu a alma às palavras.


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Aquele homem era como o antropólogo em Marte, mas este era o poeta na Terra.
Porque os poetas não vivem na Terra, Parece. Mas não vivem. E aquele homem era bem assim.
Só seu corpo vivia na Terra, o seu beber água, o seu andar, dormir e acordar, Mas o “kit de sentimentos” ele, em qualquer dia (deve ter sido cedo) resolvera canalizar pra poesia. Bonito. Pode-se pensar. Mas nem tanto, Virou praticamente uma patologia.
Aquele homem vendeu a alma às palavras. (Quer dizer, isto é o que eu digo) O que se chama vida só acontecia em sua escrita, Ele escrevia o tempo todo e em qualquer lugar, nos papéis pequenos, nos cantos das folhas e se não tivesse nada disso por perto escrevia com os dentes na própria língua, apesar da letra sair feia.
Ao “conversar” com os outros, estreitava chinesamente os olhos e absorvia o que ouvia e já imaginava tal coisa (i)mortalizada no papel.
Era casado. Tinha emprego.
A mulher foi conquistada, claro, por sua poesia, Qual não se apaixonaria?
Era a mais feliz de todas, mostrava às amigas todo recente escrito. “E seu marido o que é”?” “Poeta”. Respondia cheia de boca. Percebeu logo que aquele homem, era assim “distraído”. Mas ela mesma o defendia “ coisa de artista...”
Aquele homem tinha os olhos brilhantes, parecia até que lá vivia um menino.
Amigos, tinha. Eram s(eu)s personagens, que mais pareciam ele mesmo, Ora e não devem ser assim os amigos?
Tinha também uma amante, Claro, só em poesia. A camuflava entre os versos que era pra esposa não perceber.
Sexo, fazia. Nos versos. Sem onomatopéia, que ele não gostava, já que é barulho escrito e o que ele gosta mesmo é silêncio. Ás vezes fazia sexo escrevendo pela corrente Impressionista, outras vezes a Naturalista- e assim mesmo quando era com a amante- e pela Realista com a esposa. Ou seja, sem graça.
Aquele homem sabia de muitas coisas, Claro e como não saberia? Conhecia muitas palavras. E todas as coisas têm nome. (Será?)
Aquele homem vivia grandes estórias, As estórias eram ele. Vivia infância, adolescência e alta idade quando quisesse, Deve ser por isto que só vivia lá nas palavras.
Como seria se vivesse na Terra? Como seria se fosse de verdade?
Se não era poesia que escrevia, beleza também não era. E mandava recados economizando seus caracteres, sua simpatia e sua criatividade. Ou seja, curto, grosso e democrático.
E quando morrer? Morrerá nos textos ou na Terra?

Gosto dele não. Gostava. Mas não gosto mais.

Sei lá o que esperar de alguém que é de um jeito cá, de outro jeito lá. (palávras). Só se compreende lá e se garante cá por causa de lá.

Eu vivo cá, vou lá de vez em quando, assim desse jeito aqui. Dizer lá o que eu colhi de cá. E dizer cá o que colhi de lá. Se eu for vender minha alma, Será às Imagens (aquelas que se movimentam). Mas ainda tô negociando, Pra ser imagem, necessita ser gente. Eu gosto é de gente e Aquele homem...
Bem, Aquele homem...
Sabe-se lá.

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