segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Aquela Mulher Preta

Usava brincos de argola dourados

Uma blusa de seda  e saia longa,

Tiques nas mãos

Os olhos avermelhados...

Uns trinta anos?


Entrou naquele salão que eu me embelezava

E  me ascendeu com aquele pedido, Me tirou do lugar física e moralmente .


“ O moçá, lembra aquele dia que te pedi um pente? Me empresta aí de novo!”
 Pediu assim, ordenando, para a dona do salão.


Após receber o pente e o silencio dos presentes,

Posicionou-se em frente ao espelho

com um quase carinho  misturado com um rancor pela vida

e começou sua labuta entre as madeixas

“ É fogo, viu... esse cabelo... todo mundo fica me olhando e me discriminando, só porque eu

sou preta!” .


Praguejava contra os ventos para a avenida.

Demorou-se com o pente emprestado, a sua descoordenação  devido aos tiques, faziam-na se irritar...


Tive vontade de chorar ao observá-la de canto de olho, não queria pertubá-la encarando-a. Tive raiva da herança milenar de vaidade que herdamos, Tive ódio da bem chamada “ditadura da beleza” .  
Porque ela não sentia somente uma fome...  O que aquelas vozes deviam lhe dizer?


Foi embora.


E todas deslancharam assuntos sobre ela. Contaram-me como fora outras vezes que esteve lá.

“Louca, senil” “ Só fala que é discriminada”...


Forte.

sábado, 1 de outubro de 2011

A Arte de Afastar as Pessoas

É só dizer exatamente o que pensa;
Ou não dizer nada quando alguém espera por isso.

É só, depois de muitos não's, dizer um sim;
Ou depois de muitos sim's dizer um não.

É só agir com a verdade do teu ser quando
outro ser espera tua verdade falsa.

É só pensar em si próprio
com o absurdo desejo de ser feliz
e notar que isso incomoda a razão.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Minha Autópsia



Quando chego em casa, Destranco meu quarto, ele mais parece a cabana do major- sempre está do estado do meu espírito.

Primeiro, tiro os brincos- não me sinto em casa, se não os tirar. Depois os sapatos com os próprios pés. Troco a roupa. Procuro um lugar para pousar o celular. Prendo os cabelos e desço para pegar café, primeiro balanço a garrafa e amo quando está pesada. Subo novamente com meu café quentinho e o coloco perto de minha cama, no chão, onde está sempre cheio de livros, revistas, cadernos...

Livros que nem leio, apenas folheio, estão jogados á sorte de um dia serem explorados de verdade. Os que realmente foram lidos, não ficam neste espaço, nem jogados, Ficam na bolsa, ou devidamente empilhados num lugar alto ou viajando por aí.

Os cadernos, sim, estão sempre sendo relidos, anotam novos pensamentos, auto-observações, idéias para roteiro, sempre primeiro  neles e depois na atmosfera.

Ligo o rádio na nova efe eme ou deixo minha playlist em modo aleatório e me divirto com as provocações dela.
Me cubro com três cobertores, que no meio da noite estão sempre no chão, ás vezes os pego no pulo.

Pra dormir, Viro pro lado da parede. Roço os pés um no outro até pegar no sono. E nunca vejo quando é que durmo. Ultimamente demoro pra dormir e quando durmo sonho que estou com insônia. 

Quando desperto, olho para janela para ver se a luz do possível e sempre bem-vindo Sol está invadindo os buraquinhos. Se não, reluto em levantar. Se sim, me apresso.

Cada coisa pode ser tão simples como realmente é, Todo que não sou eu, me parece ser mistério e mais interessante . Erro Grande. Comum, comunzinho como eu.

♫ Sei , eu sei que vejo mais do que deveria, Mas é que eu sou mesmo assim ♫

Texto de :26/07/2011

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

sonho estranho

Img: Espanha, Salvador Dalí
No meu sonho aquela mulher aqui da rua, que tem muitos cachorros, servia para prever o futuro, Só que no sonho os seus cabelos que ás vezes confundem-se com seus poodles estavam amarrados.
Fazia uma roda que a incluía e previu fatos dos outros, o primeiro indivíduo eu não lembro o que foi. A segunda mulher “perde um ente querido”.
Previa o futuro desse jeito,usando os verbos no presente e eu constatei ao acordar que os fatos já estavam acontecidos.
Eu, no sonho, A temi. Mas chegou minha vez e ela “previu” com verbos no presente duas coisas.  A primeira eu já estou vivendo e a segunda achei bonita no sonho, mas ao acordar achei triste demais.
Não contarei. Mas foi estranho.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Aquele homem (ou O Poeta na Terra)- que vendeu a alma às palavras.


https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_4vnUxQ26Iwd8T5cHjf3YvUdCjiy3u1-f4PMFirwAdoXaQZTcZNYCmZ0T2eYkXDVDPxptRSSFxMQXPRiCtEpS8qTbGlqElZT8ziQjove64hQHLCDFVsdCvPpjUoXB9mCDuIkD_KlSjkSK/s1600/a_poesia_m_o_escrevendo.jpg
Aquele homem era como o antropólogo em Marte, mas este era o poeta na Terra.
Porque os poetas não vivem na Terra, Parece. Mas não vivem. E aquele homem era bem assim.
Só seu corpo vivia na Terra, o seu beber água, o seu andar, dormir e acordar, Mas o “kit de sentimentos” ele, em qualquer dia (deve ter sido cedo) resolvera canalizar pra poesia. Bonito. Pode-se pensar. Mas nem tanto, Virou praticamente uma patologia.
Aquele homem vendeu a alma às palavras. (Quer dizer, isto é o que eu digo) O que se chama vida só acontecia em sua escrita, Ele escrevia o tempo todo e em qualquer lugar, nos papéis pequenos, nos cantos das folhas e se não tivesse nada disso por perto escrevia com os dentes na própria língua, apesar da letra sair feia.
Ao “conversar” com os outros, estreitava chinesamente os olhos e absorvia o que ouvia e já imaginava tal coisa (i)mortalizada no papel.
Era casado. Tinha emprego.
A mulher foi conquistada, claro, por sua poesia, Qual não se apaixonaria?
Era a mais feliz de todas, mostrava às amigas todo recente escrito. “E seu marido o que é”?” “Poeta”. Respondia cheia de boca. Percebeu logo que aquele homem, era assim “distraído”. Mas ela mesma o defendia “ coisa de artista...”
Aquele homem tinha os olhos brilhantes, parecia até que lá vivia um menino.
Amigos, tinha. Eram s(eu)s personagens, que mais pareciam ele mesmo, Ora e não devem ser assim os amigos?
Tinha também uma amante, Claro, só em poesia. A camuflava entre os versos que era pra esposa não perceber.
Sexo, fazia. Nos versos. Sem onomatopéia, que ele não gostava, já que é barulho escrito e o que ele gosta mesmo é silêncio. Ás vezes fazia sexo escrevendo pela corrente Impressionista, outras vezes a Naturalista- e assim mesmo quando era com a amante- e pela Realista com a esposa. Ou seja, sem graça.
Aquele homem sabia de muitas coisas, Claro e como não saberia? Conhecia muitas palavras. E todas as coisas têm nome. (Será?)
Aquele homem vivia grandes estórias, As estórias eram ele. Vivia infância, adolescência e alta idade quando quisesse, Deve ser por isto que só vivia lá nas palavras.
Como seria se vivesse na Terra? Como seria se fosse de verdade?
Se não era poesia que escrevia, beleza também não era. E mandava recados economizando seus caracteres, sua simpatia e sua criatividade. Ou seja, curto, grosso e democrático.
E quando morrer? Morrerá nos textos ou na Terra?

Gosto dele não. Gostava. Mas não gosto mais.

Sei lá o que esperar de alguém que é de um jeito cá, de outro jeito lá. (palávras). Só se compreende lá e se garante cá por causa de lá.

Eu vivo cá, vou lá de vez em quando, assim desse jeito aqui. Dizer lá o que eu colhi de cá. E dizer cá o que colhi de lá. Se eu for vender minha alma, Será às Imagens (aquelas que se movimentam). Mas ainda tô negociando, Pra ser imagem, necessita ser gente. Eu gosto é de gente e Aquele homem...
Bem, Aquele homem...
Sabe-se lá.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Minha Tia

Georgette- Rene Magritte

Mulher de 37 anos. Duas filhas. Um recente ex-marido. Magra, mas com certa barriga protuberante - que faz duvidar se é ou não gravidez. Voz com um som que parece uma torneira emperrada, quando canta os louvores da igreja que participa, os vizinhos contribuem com a sinfonia fechando bruscamente as janelas.
Evangélica da Assembléia, e também viciada em astrologia (além de cigarro). Soube que seu marido estava traindo-a pela previsão diária de Gêmeos e ao verificar seu extrato bancário contendo o suspeito Motel:
“Casa de Carnes Marcos”.
Quando passo pela sua casa, pela janela ela revela sua cara, e antes de qualquer cumprimento me conta as novas sobre seu, agora, ex-marido.
Usa de adjetivos típicos de revistas de astrologia, “É que ele é instável”.
É capricorniana. Diz ser mais centrada em seus afazeres. “Ponderada”.
Antes de participar da igreja, era mais hipocondríaca; Já “teve” de furúnculo á leucemia.
Mas sua característica mais engraçada, pelo menos pra mim, É que por falar muito e sem parar atropela a gramática, e tem um gravíssimo problema com ditados populares.
Quando precisou dizer que ficou “impressionada” com algo quis ser enfática e disse “fiquei im-pres-sio-nan-te”. Ri-me. Em uma de suas doenças o nervo “asiático” estava afetado. “Cão de lata não morde”, “De grão em grão a galinha bate papo”, “Quem desenha quer comprar”, “Deus é mais, não é padrasto”. “É sempre assim ‘o de cima desce e o de baixo sobe’”, “ De noite todo gato é pato”. E por aí vai.
Agora acredita na teoria conspiratória dos cartões Mondex, onde será inserido um chip na fronte ou na mão direita de todas as pessoas que serão obrigadas a fazer tudo o que o governo quiser e será proibido falar em nome de Deus e ler Bíblia. Tal como diz no Apocalipse sobre a besta 666. Em toda conversa, cita esta bendita teoria. Nada contra, mas acho graça e boa idéia para um filme.
Falando assim, Parece que não gosto dela, mas verdade é que gosto, só a observo mais do que a ouço, de fato. É uma grande mulher, cozinha bem e cuida de suas filhas as advertindo sobre os homens e as escrituras bíblicas.
Its all.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

As coisas que a gente não esquece nunca

Porque tem coisas que a gente não esquece nunca não é verdade? Mas to falando de coisas simples, as pequenas.
Na noite de sexta coloquei coisas na mochila e saí para ir dormir na casa de amigas, algumas pessoas me olhavam e eu pensava ser por causa da mochila que estava gorda, não costumo falar com meus vizinhos, então eles deviam perguntar-se aonde eu iria àquela hora. Me lembrei de um episódio onde eu estava no ônibus, voltando de viagem, todos passageiros dormiam mas eu estava entretida com os acontecimentos lá fora e notei um menino, talvez com a minha idade de então, 11 anos, com uma mochila aparentemente pesada, com cara de choro (ou era o frio?) as mãos no bolso, andando cautelosamente. Naquela idade eu não saía de casa tão tarde (era umas 23 h) e passei a especular o que aquele menino fazia aquela hora, de  mochila e na rua? Criei mil histórias... Fugiu de casa, pois brigara com o padastro que o ameaçou de morte... Ou foi expulso pela mãe por algo que fez, ou não tinha casa, só aquela mochila... Enfim, mil histórias por uma imagem que captei em poucos segundos. Portanto toda vez que saio ou vejo alguém de mochila pesada, tarde da noite, Renovo a lembrança e recomeço a especular, “ Olha aí talvez aquele menino somente estivesse voltando do seu curso”... “talvez apenas indo dormir na casa de amigos”.
Não sei com vocês, Mas tenho muitas lembranças deste tipo, coisas que nunca esqueço e vira jargão comigo mesmo, Por exemplo, No meu primeiro dia de aula na escola, chorei muito, não queria estar ali de jeito nenhum, Minha mãe tentava me acalmar “é só até as 18” Eu não queria saber, chorava soluçando, Já na sala, as lágrimas ensopavam o caderno, a mão trêmula ao pintar o desenho, O menino á minha frente, Jeferson , ainda lembro, resolveu me acalmar  dizendo a hora e quanto faltava pra acabar.
O coitado se deu mal, porque eu perguntava de um e um minuto e ele respondia automaticamente até que explodiu “Olha, você não vai ficar aqui pra sempre!” Aí calei. Enxerguei a distância entre seis horas e para sempre. Hoje em dia, no trabalho, cursos ou demais lugares, se estou impaciente, inquieta, repito a mim mesma religiosamente “ você não vai ficar aqui pra sempre” “ você não vai...”
Mesmo assim tenho grandes dificuldades de me manter em algum lugar por mais de horas e se tiver um jeito, vazo.
Mas não é engraçado como coisinhas se fixam em nossas memórias? Ficam como que pendentes e nós retomamos sempre que algo semelhante ocorre. Sei lá. Vai ver que vem no kit de existir.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

poesia de gente-cinema


Era bom eu por minha vida no final CUT , mudar e cortar alguns frames da minha memória.

Ás vezes ajo em mais de 36 fps e isso não é nada bom.

Se eu fizesse um plano geral até hoje, São poucas as coisas que mereceram devidos plongees eu queria mesmo é fazer um fade out em determinadas situações e dar um close no que realmente importa.

Mas essas inquietações podem terminar num travelling, viajando pra outro lugar ou intensificar quem é que sabe?

A qualquer momento pode acontecer um boom e tudo se acalmar.

No background do meu coração sei que se espera um highlight só que já foi tempo demais pro meu gosto.

Meus olhos ainda estão interlaced nos seus ou ainda enxergam como fisheyes...

Quero subir no mais alto de uma grua e gritar no máximo de dbs até dar tilt ou vou segurar a respiração até ficar RGB ! Não, melhor eu controlar o diafragma.

A waveform deste enredo já ta ficando tensa, vou fazer o white balance e recomeçar.

The noir está chegando, preciso dormir e desligar a luz do set.

Obrigada pela leitura.

Sobe os créditos.


terça-feira, 26 de julho de 2011

Meu último Pedido



O meu brilho dos teus olhos



Só não perca o brilho dos teus olhos.

Todo o resto do teu corpo, por mim, que se deteriore, mas o brilho dos olhos, não.

Por favor. Ainda nem sei do que ele é feito.

Se é uma lágrima que ficou eternizada ou se plena felicidade de menino. Se perder este brilho que é o que acenava pra mim de longe ou mesmo de costas eu podia senti-lo, não precisa mais participar da minha vida. Se por acaso nos encontrarmos vou passar direto. O brilho dos teus olhos, sim, é só o que me interessa.

Não me importo que use de suas frases curtas que já sei que é pra encurtar meu afeto, Não me importo. Mas o enigma do brilho dos olhos, Faça o favor de mantê-lo vivo. Se não por você, por mim. É só o que te peço. (Já reparou que nunca te pedi nada? Você age como se eu tivesse feito).

Agora peço. Peço que faça o brilho dos teus olhos de minha casa. Que eu possa ainda me ver neles e que meus olhos invejosos e desejosos de ti, copie o brilho que desfoca minha visão e amplia meu sorriso.

Te deixo em paz, mas com esse único e último pedido.

domingo, 24 de julho de 2011

A lenda dos Mafagafinhos

Alguém já conhece a lenda dos mafagafinhos?
Pois eu a ouvi do Velho de Quatro Mil Anos (que não gosta mais de mim.) Eu nunca a esqueço, faz parte de mim, mas é que ninguém acredita nela ou conhece, então estava deixando-a guardada.

Pois bem, A lenda acontece aqui mesmo, neste mundo, mas num tempo remoto.
As pessoas moravam numa grande floresta, total e completa, Dentre muitos costumes havia o de criar mafagafos, por causa extremamente nobre.

Ao se encontrarem nos caminhos estreitos da floresta, As pessoas olhavam-se nos olhos ! (Acredita?) e examinavam-se com a vista, Até que alguém tira um mafagafo de sua cesta e o entrega a outra pessoa, mas insere nela, numa parte do corpo que precisa de cuidado. Sem dizer uma só palavra, sem precisar tocar. Apenas por que tinham pleno alinhamento com o Universo e suas bondades.

Mas houve alguém que por um acaso, achou que acabaria sem mafagafos se os desse a todos que tivessem precisando e espalhou a notícia de que os mafagafos estavam em extinção e ainda  por cima orientou a todos para guardarem os seus.

Assim, Quando as pessoas se encontravam, não se olhavam mais nos olhos e inventaram um tal de aperto de mão, e passaram a perguntar sem querer realmente saber a resposta, se estava "tudo bem".

Em uma ocasião,tive a oportunidade de reviver os bons momentos dessa grande floresta e recebi tantos mafagafinhos quanto posso lembrar, depois de eles morarem em mim ,passei para outras pessoas e assim por diante,eles devem estar rodando por aí, Assim espero.

Eis que nesta madrugada, Quero muito dar um mafagafinho para alguém que gosto muito, Há algumas semanas não olho em seus olhos, Mas sei que seu coração está pulsando e é de dor também e cheio de incertezas, mágoas e uma força bamba que não sabe para onde levá-lo. Ás vezes não é o que alguém faz para nos magoar, que nos magoa, mas é o atrevimento de elaborar algo para isto, Isso sim, dói mais do  que a ação em si. Já me repeti esse pensamento algumas vezes, e por  estranho que pareça era acerca deste mesmo que quero "curar". 

Bom, não sei se estou tocando no ponto certo,Só sei que minhas intuições não são falhas,mas por outro lado não sei  se já inventaram o envio de mafagafos via internet.

Mas se o atrevimento de uma ação pra nos magoar, nos magoa mais do que ela, O atrevimento de uma ação para nos curar, nos cura mais, né !?

Um beijo e Muitos Mafagafos em Seu Coração!

quarta-feira, 13 de julho de 2011

TEORIA (NÃO) EXISTENCIALISTA


Ás vezes acho que só eu existo, que você não existe. Você mesmo, quem quer que esteja lendo. Acho que é fabricação da minha cabeça. Penso que no meu cérebro existe uma ferramenta de construção de personagens e cenários muito rápida. Penso que há um leque de variação de vozes, cores e um catálogo de sentimentos que eu tenho para cada situação. Assim, quando fizer uma ação, meu cérebro corrige o vazio que não vejo e cria um interlocutor, o cenário, os sons e as cores. Mas é muito rápido mesmo, De acordo com meu desenvolvimento, quando era criança criava mal as coisas, aí cresci e já estou craque e crio tudo isso em nano segundo.
Ás vezes, meu ser, cansado de ser só, inconscientemente estipula um personagem que me agradaria, E isto em algum momento se projeta- Mas é tudo imaginação. Consegue ver isto?
De existir só eu? É como estar no ônibus, fechar os olhos e quando abrir, ter alguém sentado ao seu lado e o ônibus estar lotado.
Você é parte da minha imaginação, Você não existe. Isto dá um alívio... E é legal ligar e desligar este pensamento. (Mais uma vez, é como o Chaves vendendo churros para si mesmo).
Mas quando falo eu, falo ser. Eu também sou parte da sua imaginação, esse texto, esse blogue...
Tudo não existe...

segunda-feira, 20 de junho de 2011

ENSAIOS COTIDIANOS

Batatas na Panela

Abre a cortina da janela. Antes de qualquer cumprimento, Me conta que finalmente o marido deixou sua casa. E ela está aliviada por isso. Corta as batatas no ritmo de sua fala. A mobília da cozinha mudou de lugar. A toalha de mesa parece nova, é quadriculada e de cor roxa, Na liturgia católica, indica concentração. Depois de jogar as batatas na panela, Senta-se à mesa, E apóia a cabeça com o braço. A aliança ainda no dedo se faz brilhar pelo contato com a água. Ela ainda está falando, E eu espero uma deixa para conseguir entrar em casa, Ela deseja ao marido coisas ruins, o olhar está longe e parece falar consigo mesma. Começa a frase e faz um fade ao terminar... O telefone toca. Sinto alívio, digo que vou deixá-la atender e prometo voltar depois.

   Assento Preferencial

   As pessoas ficam mais bonitas quando estão lendo um livro, mesmo se estiverem sentadas indevidamente no assento preferencial do ônibus. E ficam muito feias quando fitam alguém do seu desapreço.

Dona Maria 

Mas é que ela tem um bar na dobra da esquina, sabe assim? Há muitos anos que moro aqui e há muitos anos ela tem esse bar, que não vai ninguém. Eu mesma nunca fui- ou não me lembro- Ela não tem quase nada de mercadoria e as que têm ouço dizer que estão vencidas. Mas ela está sempre lá, na porta dizendo bom dia, tarde e noite para todos que passam, as pessoas não passam por ela sem cumprimentá-la. Eu não a cumprimento. Não é porque não gosto dela, Mas é que quero poupá-la. Imagine, seu único trabalho é servir de ponteiro de relógio para as pessoas, Sim, as pessoas só a cumprimentam porque é como se ela fosse um boletim certificando que "pronto, eu já estou na dobra da esquina".  Ás vezes é estranho, na verdade muito estranho, quando seu bar está fechado, a gente passa e sente falta de alguma coisa, mas pode ser que nem nos demos conta. Escrevo sobre ela, Porque estamos meses a frio e mesmo assim lá está ela bem agasalhada atrás do balcão, As pessoas passam, olham automaticamente e têm o trabalho de tirar a mão do bolso para acená-la, assim como ela tem para responder. Eu passo, olho, mas não aceno. E ela volta a vista para TV (sempre na Globo). Não digo, mas ela cumpre sua missão pra mim também, só que eu disfarço.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Conversas de salão de beleza,Do Casamento,Do Ciúmes,Vida de comercial de TV,Do Cinema,Etecéteramente,Honestidade,Gírias e Palavrões E “Por quê?” e Porque Escrevo.

Tô afim de mudar os ares deste blog, de não mais tratá-lo como diário ou ensaios poéticos precários, mais ainda assim usá-lo como um suspiro escrito na atmosfera- já que qualquer um pode encontrá-lo.


Conversas de salão de beleza


Quase sempre vou ao mesmo salão, fica perto de minha casa, a cabeleireira e sua filha manicure, trabalham bem. Sempre pensei em usar as coisas que ouço de ambas e as clientes de algum jeito. Só que antes percebi que gosto delas pelo belíssimo senso-comum e não é papinho de gente metido à cineasta. É verdade mesmo. Desta vez falavam da situação em alguma novela (que não me recordo) em que o personagem tinha vergonha de sua mãe faxineira, e engataram todas elas numa discussão, (menos eu- que queria só escutar), que novela é bom porque mostra a realidade. Elas têm sotaque, parece que do Pernambuco e isto torna tudo mais legal, a mãe dizia “ Aquilo ali é tudo verdade mesmo”. Eu; se falasse qualquer coisa, pareceria esnobe, do tipo “ Não gente, TV não é realidade e bla bla”; Olhavam para mim esperando opiniões, como se fosse minha vez numa rodada de jogos de cartas.
Sempre quando vou lá, a cabeleireira destaca minha juventude e repete que meu cabelo não precisa de hidratação e de nada (ela não sabe ser capitalista não?). Aí ela disse algo de que tirei mais proveito: “Quando tinha a sua idade, tinha muito medo de envelhecer, mas o fato é que gosto mais de mim, agora.” Desejei o mesmo. Sua filha participa: “Pois eu tenho medo é de morrer”. Tive vontade de filosofar “Como disse Epicuro ‘quando existimos, não existe a morte, e quando existe a morte, não existimos mais’”. Mas discorreram sobre o assunto dizendo então que se devia “apruveitiar” a vida.
Falaram também de jovens que bebem e fumam, intercalando com conselhos para eu não fazê-lo.
Falaram do caso da modelo que foi jogada de um prédio (sei lá, to mal informada, nem to sabendo que o Osama morreu). A manicure  penso que já entediada comigo, me pergunta O que eu achava. Respondi neutra que era triste mesmo. A outra me perguntou se eu namorava, Ao responder que não, disse “ É isso mesmo, minha fia, pensa nos teus estudos, teu dinheiro que homi é só probrema.” É que o irmão dela foi lá, uns instantes antes pra contar que assinara os papéis da separação. Então ela continuou: “Se for pra separar logo ou ficar com traiança, nem entre nessa.” Eu só sorri. Mas tive vontade de dialogar sobre ter medo de casar, porque tenho horror a ser comum...


Do Casamento


...e tenho mesmo, sempre acho que quem casa cria uma redoma de normalidade em si, Pode ser a pessoa mais original, diferente, quando casa fica “comum” demais, Parece que se desvira, o que é mais atraente, seu diferencial, fica apenas um halo e o resto mais pertinente... Entende? O que é mais atraente na pessoa parece segredo e a normalidade, mais intensa. Cruzes. O pior de tudo é esse negócio de ser fiel, Penso também que desejar que o outro seja fiel é muita vaidade...

Do Ciúmes


Pensando sempre a partir de: MIM. Toda vez que pensei que meu companheiro de então, viesse a me trair, a coisa saía mais ou menos neste tom: “Só se ele for louco, melhor que eu não existe, mais bonita, mais inteligente, mais tudo :P e depois os que os outros pensariam?” Quando eu pensava na possibilidade de ser fiel, a razão era mais por economizar meus flertes por aí. De certo também que tive paixões longas e namoros curtos.
Dizendo isto, sei que não fico nada atraente e quem quer que seja, vai me querer bem longe... Mas eu nem vou me explicar, tudo que eu disser ainda pode ser usado contra mim.


Vida de comercial de TV


Ainda hoje, Conversando com minha irmã, não senso-comum (Thanks God) Detectamos que dificilmente nos sentimos realizados, Como pano de fundo, a TV tava ligada (eu uso a TV igual criança com biscoito recheado, come só o recheio e larga o resto, O recheio pra mim são os comerciais, gosto de analisá-los e acho mais divertido, quando volta a programação troco de canal) Pois bem, Falávamos que os casados por cumprirem o padrão, sentem alívio, mas sempre sentem que falta  algo (fontes seguras), que é um apartamento bom, o carro do ano, etc... E o solteiro, que provavelmente viaja bastante, curte baladas ou assiste à seriados, quer ser eventualmente como a mulher que dá batidinhas na jarra de suco Tang para o filho ir tomar e o homem que senta-se no sofá, abre o jornal com um sorriso, porque contratou um plano de previdência no banco Itaú. Antes claro, de desenhar um “i” no ar.
Isto é bastante crítico ou pode ser só papinho de solteiro também. Nem ligo.


Do Cinema


O que posso dizer de mim, É que estou focada e nem é tanto por que quero, em Cinema- mi vida, Ando desligando o tel na cara de uns marmanjos e omitindo minha atração por quem seria mais VIP, preocupada em não me distrair muito do meu cinema. Tá, papo de nerd... Estes dias, fui quase falar prum amigo que O que eu mais amava, já não tinha mais (my mom) e agora só precisava de cinema. Mas não consegui continuar, a voz embargou e tal...ok, isso soou dramático e vai ficar ainda mais porque nesta semana...


Etecéteramente


No bus, percebi que o que gosto mesmo é ser responsável pela felicidade dos outros. Na verdade pensava nisto, me questionando sobre se eu quero casar mesmo ou ter filhos. E concluí que não sei, mas admiti que seria alguém em que eu poderia ser totalmente responsável pela felicidade, não minha mas dele(s). É sério como conseguir um sorriso de alguém me realiza e não pretendo fazer comédia, mas é bom demais, mew.
Outra vez, um alguém disse que eu não quereria ter um filho mas sim um projeto filosófico em carne e osso, porque me atraio pela idéia de gerar alguém só pra perceber como um ser humano se desenvolve intelecto e etecéteramente... 


Honestidade


É com muita honestidade que contei essas coisas até agora, Porque ao escrever tento parecer despretensiosa e agradável (vixi, isso já é pretensão?!). Relutei muito tempo contra o padrão de escrita, apesar de amar as palavras, mas não gostava muito de atender à gramática, só quando o tiro saiu pela culatra, ao ler alguém que sem querer não utilizava corretamente o português, percebi que era melhor escrever obedecendo às regras já que eu queria comunicar, queria que “chegasse” ao interlocutor. Por isso gosto de sotaques, gírias e palavrões.

Gírias e Palavrões


... Porque os vejo como um protesto contra a linguagem formal, Além de ver também como muito criativo e sensitivo, é mais como personalizar a língua e também dá até pra designar épocas, né, bicho?
Fico atrás de saber como a gíria, o palavrão brotou, Será que simplesmente brota? Meus amigos e eu (claro) falamos, por exemplo: “Estorei no norte” que pra quem não tá por dentro de gírias é algo como: “arrasei”, só quando ouvi alguém com sotaque nordestino (sim, não nortista) supus que deve ter surgido pelas bandas de forró que estouram no norte ou alguém que faz e acontece por lá. Sei lá. Outra que não entendo, mas falo é “Se pá” que pode ser traduzido por “talvez”,” se der” tal...
“Se pá” – rs, vai ver que é pelo som, “pá” = um acontecimento. Realmente não sei. Há muitas outras...
Os palavrões são uma das melhores coisas que existem, eu nem uso muito, não desperdiço, mas é bom, não há nada que expresse melhor qualquer coisa que precise ser expressada com determinada emoção. Por ex, “Caralho”- Não me interessa o que vem a ser, mas o som é ótimo, tem um rasgo nas sílabas e no ato de xingar agente rasga ainda mais. “Porra”- é quase um suspiro silábico.
Não gosto é de “desgraça”, acho forte demais e o significado é visível, não gosto também de xingamentos, ou seja que não sejam palavrões, já que xingamento é frase e palavrão é palavra grande (Jura?) Os xingamentos ou “frasão” são só compostos por palavrões.
“Vai tomar no cu”, “Filho da puta” quase não é xingamento ou palavrão, é só preconceito, oras.
Quando eu digo algo, a pessoa por distração não entende e pergunta “O quê?” Respondo “CU, Entendeu agora porra caralho...” e por aí vai.
Trato os palavrões e sua turma como licença poética. Uma vez usei este pensamento como piada, mas ninguém riu, sei nem porque.

“Por quê?” e Porque Escrevo


Depois que ele disse, Ela perguntou:
“Por quê ?”
Ele respondeu com outra pergunta:
 “Isso é pergunta que se faça?”
Ué e qual é a pergunta que mais fazemos durante o dia todo? Há quatro tipos de “porquês” no português, que, aliás, é uma merda, Queria escrever tudo de um jeito só até em prova escolar, talvez da forma mais atual: “pq”. Até hoje não sei direito comé quié , sempre peço “ajuda aos universitários”, por isso assumo que não sei escrever nada mesmo, o que me atrai na escrita é fixar idéias no papel ou na atmosfera- que pode ser entendido como blogue e internet (realmente odeio a palavra ‘blogue’ e já disse mil vezes e não aceito o termo ‘blogosfera’) e nem demonstrar vasto conhecimento de literatura, variados assuntos ou língua portuguesa. É muito mais para experimentar todas essas maluquices flutuantes da minha cabeça agrupadas e significadas nestes desenhos chamados letras que formam as tais de Palavras.